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10 PSICOLOGIA PASTORAL
10 PSICOLOGIA PASTORAL

(ver vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=NthMa_kThl0)

  1. O Que é Psicologia

As antigas especulações sobre a alma e a capacidade intelectual do homem foram complementadas desde o século XIX por uma nova ciência, a psicologia, que estabeleceu métodos e princípios teóricos aplicáveis ao estudo e de grande utilidade no estudo e tratamento de diversos aspectos da vida e da sociedade humana. Psicologia é a ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento.

Entende-se por comportamento uma estrutura vivencial interna que se manifesta na conduta. O termo psicologia origina-se da junção de duas palavras gregas: psiché, "alma", e lógos, "tratado", "ciência".

A teoria psicológica tem caráter interdisciplinar por sua íntima conexão com as ciências biológicas e sociais e por recorrer, cada vez mais, a metodologias estatísticas, matemáticas e informáticas. Não existe, contudo, uma só teoria psicológica, mas sim uma multiplicidade de enfoques, correntes, escolas, paradigmas e metodologias concorrentes, muitas das quais apresentam profundas divergências entre si.

Nos últimos anos tem-se intensificado a interação da psicologia com outras ciências, sobretudo com a biologia, a linguística, a informática e a neurologia. Com isso, surgiram campos de aplicação interdisciplinares, como a psicobiologia, a psicofarmacologia, a inteligência artificial e psiconeurolinguística

 

2 Métodos e Técnicas

 

Os métodos científicos da psicologia podem ser divididos em três grupos: experimentais, diferenciais e clínicos. Os métodos experimentais, oriundos das ciências físicas, têm por princípio a variação de um fator, o fator causal também chamado variável independente, mantendo constantes todas as outras fontes de influência. Observar-se-ão, assim, as modificações produzidas na variável dependente. A tarefa fundamental do psicólogo será, de um lado, encontrar medidas precisas quanto às variações das variáveis independente e dependente, e, de outro lado, controlar todas as outras variáveis para que seu efeito possa ser considerado como constante.

Em certos casos, como no estudo do desenvolvimento dos fatores da inteligência, da personalidade etc., o psicólogo não pode variar diretamente o fator que deseja estudar. Recorre então ao método diferencial. As diferenças individuais constituirão a variável propriamente dita; as outras condições, e mesmo as provas às quais os indivíduos serão submetidos, ficam constantes.

Enquanto os dois métodos citados permitem estabelecer leis gerais, o método clínico se propõe compreender o indivíduo em sua situação particular ou pretende aplicar as diversas leis gerais a casos individuais. Seu uso é indispensável no diagnóstico da personalidade. Para o conhecimento preciso de determinados fenômenos psicológicos, muitas vezes os três métodos devem ser empregados conjuntamente.

 

3 Conceito de Psicologia Pastoral

 

A psicologia pastoral, na sua essência e na sua tarefa, é ciência auxiliar da teologia pastoral e, como esta serve diretamente à assistência espiritual e prática. A psicologia pastoral pode definir-se, noutras palavras, como ciência psicológica enquanto oferece os conhecimentos psicológicos necessários a assistência espiritual. Como a assistência espiritual tem por objeto a alma humana, o pastor de  Psicologia. Pastoral almas agirá com tanto mais sucesso, quanto mais conhecer a alma. O pastor e o educador que não se identificarem, com a alma nas suas peculiaridades e condições e não as compreenderem, saberão bem pouco de suas profundas misérias e necessidades, para poder remediá-las; de seus defeitos e obstáculos; de suas tendências e prerrogativas, para poder realizá-las. Faz lembrar o semeador que lança a semente preciosa ao vento. “Não tem sido esta, às vezes, nossa atitude? Fé límpida e a melhor das vontades por parte do pastor, trabalho ininterrupto, dia e noite, todavia sem fruto! Falta de clarividência e de tato pedagógico, de compreensão das almas e dos tempos. ‘Vós, teólogos, não nos compreendeis’ era muitas vezes a sentença conclusiva de quem precisava de nós e de quem nós precisamos” (L. Bopp).

Olhando desse ponto de vista, devemos admirar como a ciência da alma humana, do caráter, do temperamento, das peculiaridades da vida psíquica segundo a idade, o sexo e as condições de vida tenha parte tão pequena na instrução dos teólogos e dos pastores de almas. É verdade que, nos últimos, tempos, no quadro das disciplinas, filosóficas que precedem os estudos teológicos propriamente ditos, concedeu-se um lugar à 'Psicologia experimental', mas isso não satisfaz plenamente as exigências da assistência espiritual. Devemos concordar com o que diz Rbaban Liertz: “Com toda a psicologia experimental avizinhamo-nos bem pouco da exploração da vida psíquica, propriamente dita”. Não podemos ignorar existirem não poucos pastores e educadores que, apesar de trabalharem há longos anos no cuidado das almas, conhecem mal os homens. As razões são muitas. Uma, porém, consiste na falta de introdução adequada, na compreensão da vida psíquica humana durante o período da preparação profissional. Com o mesmo direito, senão maior, com que se introduzem os futuros pastores nos conceitos basilares da Sociologia pastoral e da Economia política, devem exigir-se lições de Psicologia pastoral, no programa de estudos teológicos, Uma instrução a fundo sobre questões de psicologia, e justamente com critérios bem diversos, mais práticos do que os que se realizam no estudo da psicologia experimental, é absolutamente necessária para o futuro pastor de almas; de qualquer modo, mais necessária que tantas “matérias secundárias”, cujo conhecimento se exige hoje dos estudantes de teologia. “A psicologia pastoral é lacuna que espera ser preenchida” (Bopp). São estas as palavras com que o conhecido teólogo de Friburgo aponta a necessidade da exposição dos problemas da psicologia pastoral.

Diante da urgência desta ciência auxiliar teológico-pastoral justifica-se a pergunta: por que até hoje não se chegou ao tratamento sistemático de uma psicologia pastoral, apesar de todos os trabalhos preliminares e parciais? A razão talvez derive da natureza dos problemas a tratar, os quais, achando-se à margem do campo científico, suscitam discussões quanto a pertencerem ao campo do teólogo ou do 18 psicólogo. E, de fato, na prática concreta, muitas vezes é difícil decidir se um psicopata deve tratar-se com o confessor ou com o psiquiatra.

Outro motivo da falta de exposição sistemática de psicologia pastoral talvez fosse possível reconhecer na falta de que se ressente muitas vezes o cientista da necessária experiência do assistente espiritual, enquanto ao pastor prático falta em geral tempo para se ocupar dos resultados científicos da psicologia moderna. Além disso devemos confessar que, até pouco tempo, também a psicologia tinha descurado não poucos problemas do próprio campo específico. “A psicologia moderna abandonou, com desinteresse na verdade surpreendente, as questões do temperamento, mentalidade, caráter, ou delas tratou de passagem, como apêndice ou complemento (Utitz). Dessas considerações emergem, de um lado, as razões da falta de uma psicologia pastoral conclusiva, de outro a necessidade da colaboração entre teóricos e práticos, sacerdotes e leigos, educadores e médicos. Podem atribuir-se as deficiências da vida religiosa de inúmeras pessoas de nossos dias a razões e causas várias e a situações de  ato. A maior parte das almas, hoje afastadas de Deus, não se pode ir por via direta. Suas dificuldades não consistem tanto no fator religioso, mas nas suas premissas. Muitos homens modernos, do ponto de vista religioso, estão cegos e surdos; não enxergam nem escutam mais.

Não estão nem mesmo em condições de poderem fazer atos de fé, esperança e caridade. São contrários ao que é dogmático, ético, religioso-tradicional e eclesiástico-confessional. Nem sequer oram ou só raramente e, mesmo então, só à sua maneira, conforme o humor e o capricho, mas não “em espírito e em verdade” (Jo 4,23).

A presente exposição de questões psicológico-pastorais, que de nenhuma forma pretende ser trabalho exaustivo e completo, mas só uma experiência e incitamento ao nobre bacharelando.

 

 

Capítulo 2

 

Psicologia dos tipos

Para a compreensão da alma humana é de suma importância saber que cada uma delas representa algo de particular, de único. Entre tantos milhares de almas, saídas da mão criadora de Deus, não há duas sequer que sejam completamente iguais. Todavia podemos classificar as, qualidades psíquicas conforme sua natureza, desenvolvimento e o ambiente, em grupos que apresentam uma série de formas típicas. Resulta claro, portanto, a importância do conhecimento dos diversos tipos da psique no estudo da psicologia pastoral.

 

2.1 Diferenciação Segundo o Sexo

 

“Vós todos batizados em Cristo, estais revestidos de Cristo. Não judeu, nem grego, nem servo, nem livre, não há homem nem mulher” (Gl 3.27-28). Com estas palavras o apóstolo Paulo afirma que na comunhão de vida que une todos os membros do Corpo de Cristo, desaparecem as diferenças de origem, de classe social e até as sexuais. Mas o apóstolo seria mal interpretado, se acreditássemos que nega todas as diferenças naturais existentes entre os homens.

Justamente Paulo sublinha a diferença natural entre homem e mulher, relacionando-a com a vontade expressa de Deus (1Tm 2.12 etc.). É necessário que o pastor de almas conheça as diferenças psíquicas da sexualidade masculina e feminina. Não faltam hoje vozes segundo as quais para o esfriamento religioso do mundo masculino contribuíram, entre outros fatores, também os sacerdotes, pela compreensão deficiente das particularidades masculinas; como as formas de devoção levam grandemente em conta o sentimento feminino, o homem em vez de se sentir atraído, considera-as desagradáveis. É certo que para a direção espiritual eficaz é preciso o conhecimento profundo das peculiaridades e da diferenciação da vida psíquica nos dois sexos; tanto mais nos dias de hoje, o cuidado pastoral leva mais em consideração os dados da natureza. Deixando de lado esta questão, impõe-se o conhecimento exato das diversidades psíquicas do homem e da mulher. Quanto mais o homem e a mulher se sentirem compreendidos pelo confessor nas suas peculiaridades psíquicas, com tanto

maior boa vontade, e sem reserva alguma, abrir-se-ão a ele e tanto mais frutuosa será sua influência na vida espiritual. A atitude psíquica fundamental, o caráter e a mentalidade do homem são, sob tantos aspectos, tão diferentes 20 dos da mulher, que se chegaria a pensar que o homem não deve ter a mesma alma que a mulher. Mas tal não é exato. Não há almas masculinas e almas femininas, há apenas almas humanas. As capacidades e os modos de reação da vida psíquica masculina e feminina derivam da diferença do físico, de modo que a alma, criada diretamente por Deus e ligada ao germe vital, sentirá de maneira masculina ou feminina, conforme o germe se desenvolver para tornar-se masculino ou feminino. A biologia moderna demonstra que os hormônios gerados nas glândulas vitais, e transportados ao sangue por meio da secreção interna, determinam as disposições, capacidades, modos de reação e várias necessidades dos sexos. Poder-se-ia usar a comparação de um artista que maneja dois instrumentos diferentes. A impressão musical despertada pela sua arte será completamente diversa, conforme tocar um ou outro instrumento.

A distinção psíquica dos sexos é querida por Deus, portanto, deve conservar-se e cuidar-se também na ordem sobrenatural. Segundo o princípio: gratia supponit naturam, em vez suprimi-las nas suas peculiaridades, essas disposições masculinas e femininas devem ser cultivadas e nobilitadas no sentido cristão.

Ocupemo-nos primeiro da particularidade psíquica dos sexos. Aparece já na história da criação que o homem tem o primado sobre a mulher. A mulher foi destinada para companheira do homem representa o complemento dEle e o seu aperfeiçoamento. Ele é o início, ela a continuação; ele o impulso, ela a executora; ele cria a ideia, a ela realiza; ele adquire, ela conserva e guarda.

Daí deriva a diversidade de dotes entre o homem e a mulher. Vemo-lo já no físico, pois o homem tem dotes para o rendimento máximo, a mulher para a maior duração. Não devemos esquecer que a sexualidade não é do ser, mas das atividades e dos hábitos a ele submetidos. Por isso renegar o caráter sexual e tender à assimilação das peculiaridades do outro sexo é artificial e, portanto, funesto, porque debilita e perturba a polaridade e a tensão querida por Deus e, ao mesmo tempo, também a atração recíproca dos dois sexos. Só um homem em plena posse das peculiaridades e dos valores masculinos poderá conquistar e conservar duradouramente a estima e o amor por parte da mulher, como também por outro lado, só a mulher que conserva e cultiva as peculiaridades femininas terá atrativos para o homem e poderá conservá-lo preso a si.

Passemos a ilustrar as características principais que diferenciam a psique dos dois sexos. Primeiro dote do homem é o talento criador. É exigido para a realização da ordem divina de sujeitar a terra e dominála

(Gn 1. 28). É por isso que quase todas as invenções e as descobertas cabem ao homem, enquanto que a mulher nesse campo, 21 Psicologia Pastoral não demonstra muito sucesso. Diz-se o mesmo da arte. Também nesse campo as obras do homem ultrapassam de longe as da mulher. A ação supõe a idéia, isto é, ato de conhecimento intelectivo. Por isso no homem prevalece a inteligência e a força lógica. O homem pensa de modo claro, calmo, lógico, enquanto a mulher no seu conhecimento fica com facilidade do sensível e o seu pensamento caracteriza-se muita vez por uma falta surpreendente de lógica e por notáveis preconceitos.

Característica ulterior da mentalidade masculina é o sentimento do objetivo, do positivo. Ao contrário, a alma da mulher orientasse fortemente para o subjetivo, o pessoal. A inteligência do homem é propensa à abstração, ao universal, ao típico, enquanto o pensamento da mulher dirige-se acentuadamente para o concreto, o sensível.

Correspondendo a essa distinção, a fantasia dos dois sexos é diferente. O homem é mais capaz de dominar a fantasia por meio da vontade, enquanto a própria fantasia, notavelmente mais viva e colorida, domina a mulher com grande facilidade. O homem, superando o sensível, volta-se para as idéias universais, para os conceitos. Daí o sentimento do essencial, o desejo de saber, a compreensão das leis da ordem, o interesse pela grandeza, vastidão e profundidade.

Ao contrário, o pensamento da mulher cinge-se ao particular, aos fatos experimentados pessoalmente; tem o sentimento do especial, do particular; o desejo de saber não se concentra na pesquisa do motivo e da causa, mas na experiência do novo e se expressa na curiosidade e no prazer do sensacional. A compreensão das leis da ordem e do universal é nela pequena. Possui, porém muito maior capacidade de adaptação a situações especiais e compreensão do que está próximo, é íntimo e mínimo. Enquanto o homem, diante das ideias, muitas vezes se descuida da realidade, a mulher possui grande sentimento prático da vida. O homem aliança pela ideia, a mulher pela própria experiência. Ao homem agrada o trabalho independente, a mulher produz mais

cumprindo tarefas que outros lhe impõem. O homem considera e examina a obra com reflexão objetiva e crítica, enquanto a mulher se entrega a móveis inconscientes, subconscientes, parafísicos. Este fato

22 explica muita vez também seus enigmas e a irresponsabilidade. O homem atinge o alvo com vontade e coerência metódica, a mulher com a finura intuitiva do instinto, com o sentimento e tenacidade da paixão.

Servem-lhe otimamente a habilidade e a perspicácia. O homem caracteriza-se pelo pensamento discursivo, enquanto a mulher capta a verdade frequentemente de modo intuitivo, espontâneo, quase instintivo. O processo imaginativo é mais dominado, controlado, meditado no homem. Prova disso é a loquacidade feminina. A linguagem da mulher é mais viva, mais impulsiva e às vezes atropelada.

O homem nos seus atos é ponderado, toma em consideração os obstáculos que se lhe põem, enquanto a vontade da mulher é desenfreada, impulsiva, muitas vezes imprudente e sustentada por otimismo longe da realidade. A vontade do homem tem consciência de seus fins e vê as consequências; a da mulher, ao contrário, é instável, caprichosa e inconsequente. O homem mantém os objetivos a determinada distância, a mulher perde-se com facilidade nos mais próximos. O homem tem o sentimento da verdade, a mulher o da bondade e da beleza. O homem deixa-se convencer por motivos razoáveis, a mulher deixa-se persuadir e influenciar por argumentos superficiais. O homem sacrifica-se por uma ideia, a mulher por uma pessoa.

As peculiaridades psíquicas dos sexos exprimem-se também na consciência moral. O homem reconhece no imperativo da consciência outros tantos fins, vê nele princípios para a ação. Para a mulher, contudo, as normas da consciência parecem mais obstáculos concretos às aspirações muita vez inconscientes. O homem procura explicar a si mesmo a lei, a mulher procura desculpar-se diante dela. O homem, apesar das faltas isoladas, permanece mais facilmente fiel a um princípio ético, a mulher, depois de superados os obstáculos iniciais, forma-se muitas vezes desenfreada. Com esse fenômeno concorda a experiência, segundo a qual a mulher, se é má, é muito pior que o homem e arrepende-se com muito mais dificuldade.

Agora procuraremos aplicar as considerações precedentes ao reconhecimento das diferenças psíquicas do caráter, à vida religiosa e aos efeitos que resultam na vida moral dos dois sexos.

2.2 Sexo e Personalidade

 

Psicologia Pastoral

 

A capacidade criadora do homem confere o senso da grandeza, vastidão e profundidade. Daí o espírito de iniciativa, o dinamismo, o prazer de viajar, a natureza combativa a avidez de conquista. A tudo isto vem juntar-se a generosidade, a tendência a atingir o fundo das questões, dos acontecimentos da natureza e da técnica. Ao contrário, a mulher tem mais compreensão do que está próximo, recolhido, íntimo. Daí o sentimento inato de ardor, de intimidade de casa agradável e ordenada. A mulher aceita os acontecimentos como são, sem perguntar a si mesma a razão íntima, a causa motriz, a natureza e função. A mulher é capaz de servir-se de uma máquina durante anos sem nunca interessar-se pela lei de seu funcionamento, enquanto o menino desmonta a boneca da irmãzinha para descobrir o segredo da fala.

 Com o sentido positivo, objetividade e tendência ao universal do espírito do homem explica-se a constância maior, enquanto o apego ao concreto, sensível, pessoal e subjetivo, unido à vida afetiva maisintensa, produz o bem conhecido capricho feminino. Com as supracitadas qualidades do homem explica-se também a maior sinceridade, retidão, simplicidade, enquanto pelas peculiaridades psíquicas da mulher, o inconsciente, a emotividade entende-se mais facilmente seus enigmas e irresponsabilidade. Enquanto conseguimos conhecer e penetrar, após determinado tempo, a vida psíquica de um homem, justamente pela primitividade relativa, com a mulher, nesse sentido, não o conseguimos nem depois de muito tempo; antes, mesmo depois de longos anos, podemos descobrir qualidades que não supúnhamos. Em última análise, a alma da mulher permanece por toda a vida um tanto misteriosa, enigmática, não só para os outros, mas também para si mesma. “A obscuridade misteriosa que existe no fundo de cada alma de mulher, não se abre completamente ao olhar do homem, nem mesmo depois de muitos anos de íntimo intercâmbio espiritual, estende-se também à religiosidade específica do sexo feminino” (Rademacher). Dada essa grande impenetrabilidade da vida psíquica da mulher, ao olhar da própria consciência explica-se porque até hoje não há uma exposição científica da vida psíquica feminina redigida por uma mulher. “A mulher ainda nos é devedora da ciência, inteira relativa ao seu sexo; ela, como representante do próprio sexo, é ainda hoje um livro com sete selos” (Hedwig Dransfeid).

Neste sentido exprime-se também a doutora em filosofia e medicina

Frederica Sack, no excelente relatório por ocasião do Congresso dos

Catequistas Austríacos em Viena, a 18 de abril de 1951: “A psicologia da mulher encontra-se ainda em estádio pré-científico”.

24 Da natureza psíquica do homem, orientada para o intelectual e o objetivo, origina-se a tendência para o conhecimento da verdade, a inclinação para os motivos racionais. A mulher, por outro lado, tende ao bom e ao belo, a que aspira com todas as forças espirituais. O homem inclina-se mais para a reflexão, à calma, ao pensamento sem preconceito, à coerência na ação. A mentalidade da mulher, ao contrário, vê-se ameaçada pelo perigo de tornar-se o desejo pai do pensamento, de que ela “raciocine com o coração” e que o sentimento e a paixão se substituam à realidade objetiva e com ela entrem em conflito. Desde que os sentimentos estão expostos a maiores oscilações, essa particularidade da mulher gera muita vez a incongruência no pensamento e na ação, induzindo-a a destruir hoje o que adorava ontem e vice-versa. Entra também nos traços essenciais da alma feminina dependência em relação às influências do ambiente em tão alto grau que se escraviza. Por isso se torna vítima da ação persuasiva de qualquer pessoa com mais facilidade que o homem, e abandona as próprias convicções em favor de idéias alheias. Mas, quando se apropria de determinada convicção, por motivos sentimentais, será bem difícil dela arrancá-la. Poder-se-ia, em certo sentido, afirmar que a mulher se deixa persuadir com facilidade, mas dificilmente se deixa dissuadir.

2.3 Sexo e Vida Religiosa

A têmpera espiritual diferente do homem e da mulher reflete-se naturalmente na tonalidade diversa da vida religiosa. Para o homem a estrada que leva a Deus é mais longa e mais cheia de dificuldades. Procura reconhecer e servir a Deus “em espírito e em verdade” (Jo 4.23). O conceito que tem de Deus é mais puro, mais espiritual. Para

Ele Deus é o onipotente, o infinito, o inatingível, o augusto, o poderoso. O homem com a sua inteligência adere mais à ideia, por isso sua luta para captar a personalidade de Deus é mais dura. “A falta da materialidade e a imensa distância do objeto dificultam ao homem a ideia da personalidade, do ser em si, da natureza divina; atinge no máximo, o impessoal, a que atribui existência e uma soma de qualidades” (Zimmermann). A essas dificuldades, acrescentam-se numerosas outras, que derivam da praxe da vida religiosa. Em primeiro lugar: dificuldade na vida de 25 Psicologia Pastoral oração. A oração é essencialmente atitude espiritual de humildade diante de Deus. Isto, porém, para o homem, que na vida social está habituado a dar, a ordenar, a agir, torna-se incomparavelmente mais difícil do que para a mulher. Devemos acrescentar ainda a menor exuberância do sentimento e da fantasia masculina. Além disso, sua autossuficiência, afirmada frequentemente no campo natural, faz com que não sinta desejo tão ardente do Deus pessoal, como sente a mulher. Nem podemos menosprezar a influência relevante, ao menos no campo religioso, do respeito humano, do medo da zombaria e do desprezo pelo cumprimento dos deveres religiosos. Se refletirmos enfim na escassa possibilidade que o atual serviço litúrgico oferece ao homem para aplicar o espírito de iniciativa, na maior dificuldade de arrepender-se dos pecados cometidos, torna-se claro que o homem           encontra maiores obstáculos que a mulher na vida religiosa.

Mas não poucas vantagens compensam essas dificuldades. Se o homem, por meio de suas lutas, consegue superar todos os obstáculos da índole masculina, alcança conceito de Deus mais puro e mais espiritual do que o da mulher e então presta a Deus veneração mais profunda; na estrada para Deus vai direto à meta; é mais independente, mais consciente que a mulher, e então também a convicção franca resiste melhor às provações e agitações; o ardor do amor por Deus o impele impetuosamente ao apostolado, à cooperação na difusão do reino de Deus. Tais homens, dignos de confiança, sabem ficar no seu posto mesmo durante o furor da tempestade, como verdadeiras colunas da Igreja. Devendo o homem, no campo religioso, superar dificuldades maiores, que derivam da própria índole masculina, explica-se por que tantos homens sejam religiosamente tíbios e indiferentes. Entre os representantes do sexo forte poucos merecem o adjetivo de religioso e piedoso. Quando, porém, o homem capta a essência da vida religiosa, supera a mulher, como em tantos outros campos. Completamente diversos são os pressupostos naturais da mulher para a vida religiosa. A estrada para atingir a Deus é mais curta, mais simples, sem tantos problemas, porque seu conceito de Deus é mais primitivo, menos penetrado de espiritualidade e mais antropomorfo. Ela não vê tanto em Deus o ser infinito, augusto, mas o Pai cheio de bondade e misericórdia, a quem dirige o olhar confiante, procurando proteção e auxílio. Sua necessidade natural de apoio lhe vem em auxílio, como também o impulso de dedicação amorosa e o sentimento da personalidade de Deus. Por esses motivos a mulher 26 atinge com - maior facilidade o mais alto grau de amor a Cristo.

Naturalmente não está excluído o perigo de que pare no lado puramente humano. Na, vida de oração, a fantasia viva, a ternura, a atitude fundamentalmente humilde da psique, inclinada ao cuidado e à obediência ajudam muito a mulher. Encontram-se mais almas místicas entre as mulheres do que entre os homens o que se explica principalmente pela índole espiritual passiva. A mulher demonstra maior perseverança nas instruções e pregações longas, enquanto a paciência do homem se esgota mais depressa.

Os lados negativos da índole feminina no campo religioso são: a tendência a humanizar o conceito de Deus, tratá-lo com muita familiaridade, a inclinação à sugestão, ilusão e capricho, a exaltação sentimental, a superficialidades fraqueza da vontade. Como as mulheres olham mais para a pessoa do que para a ideia, é de concluir que uma mulher mesmo excessivamente religiosa é capaz de abandonar completamente os deveres religiosos quando entra em conflito pessoal com um sacerdote, o que demonstra como é necessário ao pastor de almas preocupar-se com a irrepreensibilidade de sua pessoa, para que os de pessoais não prejudiquem o respeito devido à religião.

2.4 Sexo e Vida Moral

O homem sente-se senhor e coroamento da criação. Seu sentimento de superioridade baseia-se em certas qualidades em que supera a mulher. Em primeiro lugar a força física e espiritual, a independência e liberdade social. Porque não serve à vida de modo tão direto como a mulher, traz em si traço inconfundível de amor-próprio que, degenerando, pode transformar-se em egoísmo brutal.

Na vida instintiva, o instinto sexual ocupa lugar preeminente. O impulso afetivo, mais desenvolvido na mulher, é mais fraco no homem; ao contrário, o instinto físico, normalmente mais desenvolvido, pretende impetuosamente a satisfação. Por isso a continência pré matrimonial exige, sem comparação, maior abnegação no homem do que na mulher, pois reclama, além do sacrifício sentimental, também o físico. Esse fato explica, além disso, que o homem é em geral mais responsável pelo abuso matrimonial do que a mulher e, por outro lado, a santificação do matrimônio e a fidelidade matrimonial exigem dele sacrifícios muito maiores. Da tarefa fisiológica, da força e da vitalidade do instinto físico masculino, resulta que o homem não pode cumprir o ato sexual sem satisfação física. A mulher, porém, é capaz de cumprir o

“debitam coniugale” sem “delectatio venerea”. Naturalmente, nesse caso, trata-se de forma não natural da relação conjugal que, com ou sem culpa do marido, pode levar mais cedo ou mais tarde a perturbações físicas e até psíquicas graves na mulher. A força maior de paixão do instinto sexual masculino tem como consequência que o homem comete pecados contra a castidade com mais facilidade. Por outro lado, apesar disso ou justamente por isso, o homem é capaz de libertar-se e corrigir-se com mais facilidade de quedas sexuais, do que a mulher que, uma vez perdidos os obstáculos morais, precipita-se mais baixo que o homem e torna-se quase incorrigível. O sentimento de justiça encontra origem na forma mentis objetiva e positiva do homem. Ele não se deixa dominar com tanta facilidade pelos sentimentos, por humores e preconceitos e, portanto, com maior dificuldade que a mulher, torna-se vítima de simpatias e antipatias.

Consegue prescindir melhor da pessoa, e por isso é menos parcial nos julgamentos. O homem, como protetor e defensor da família, deve ser intrépido e corajoso. Como a mulher sente necessidade da proteção masculina, um homem a atrai tanto mais quanto mais possuir essas qualidades.

Na qualidade de chefe de família, cabe ao homem a responsabilidade principal de todos os interesses da comunidade familiar. A mulher deve tomar parte, sobretudo como conselheira. É atitude estranha da mulher, observada comumente, não querer tomar decisões sozinha, mas realizar, encarregando o homem do que havia deliberado e sugerido antes. Assim acontece quando se aconselha com o homem sobre aquilo que já decidiu. Com esse comportamento a mulher procura atingir um fim duplo: de uma parte realizar a própria vontade, e de outra aparentar obediência ao homem, atirando às costas dele a responsabilidade. Ao sentimento de grandeza, vastidão e sublimidade no homem, corresponde a generosidade e aversão à estreiteza de vistas. (O pedantismo do homem esconde com facilidade um traço feminino de seu caráter). O reverso dessa qualidade, elogiável em si, é a desordem, a imprecisão, na qual o homem cai muito mais comumente que a mulher. Como o homem destina-se ao rendimento máximo, cansa-se muito mais depressa do que a mulher, sendo também menos tenaz. Daí, 28 provavelmente, também a tendência à impaciência e muitas vezes a perseverança deficiente e a inclinação à comodidade. Da sua coragem, intrepidez, amor ao positivo, provém a veracidade. O homem sincero odeia a mentira, o fingimento e todas as aparências. Verdade e justiça provêm da mesma fonte. O homem, mais que a mulher se encontra, em meio à vida pública, que o aprecia e estima tanto mais, quanto mais pode contar com a lealdade profissional e o sentimento de dever dele. Por isso estas qualidades, juntamente com a observância e o respeito às leis justas, fazem parte do quadro característico da masculinidade verdadeira e autêntica. Devemos acrescentar ainda a seriedade da vida, consequência lógica da luta pela existência e da preocupação pelo pão cotidiano. Lançando um olhar de conjunto sobre as considerações precedentes, vemos que o homem, embora não estando livre de aspectos fracos e de tendências perigosas, apresenta, todavia, nas suas disposições naturais tantos valores positivos que deixa perceber no espírito, mesmo no estado de natureza decaída, os vestígios de sua semelhança originária com Deus, e de ter recebido dele na criação as bases naturais de seu destino como filho de Deus, concedidas com a graça santificadora. Consideremos agora as qualidades características da mulher na vida moral. Conforme o destino de companheira do homem, a natureza e a atividade levam-na à ajuda, ao complemento, à guarda e à assistência. Daí o sentimento inato de amor para com o próximo, cuidado, compaixão e sacrifício. Uma mulher sem altruísmo, sem sentimento materno - casada ou não - é criatura desnaturada. Como o cavalheirismo representa o ornamento mais belo do homem, assim o sentimento materno é o aspecto mais formoso da figura da mulher. Toda mulher que segue o impulso do coração deseja ser mãe dos próprios filhos ou de outros, grandes ou pequenos. Até em relação ao homem a mulher procura desdobrar o sentimento materno. Não apenas por causa dos filhos, mas também pela manifestação do próprio reconhecimento pelos seus cuidados delicados, o homem chama muitas vezes a mulher: “Mamãe'. Muitos homens, embora procurando escondê-lo, porque acreditam devê-lo à masculinidade, sentem saudade no fundo do coração da bondade feminina, de seus cuidados e auxílio, do sentimento materno. Para o exercício da profissão de mãe, a mulher foi dotada pelo Criador de grande -prontidão para o sacrifício, de capacidade de dedicação, de força de abnegação, de paciência e perseverança. O homem, menos rico em sentimentos, é também menos capaz de proporcionar conforto.

Esta qualidade, naturalmente, pode também degenerar, como vemos com frequência no campo da moda. Mas é sempre índice de decadência e da negação da natureza feminina. O sentimento estético explica também a tendência inata para a ordem e a limpeza.

Já aludimos à consciência que a mulher tem da lei como obstáculo e limite à atuação concreta. Perdendo este sentimento, ela não presta atenção nem mesmo ao contraste com a lei; assim se explica que na

mulher podem coexistir condutas opostas do ponto de vista moral, sem preocupações de consciência. Assim se compreende também como a

alma da mulher, ao lado da consciência mais delicada, da fidelidade ao dever e da pontualidade, pode dar lugar a ofensas inconsideradas de normas morais importantes.

À mutabilidade do sentimento e adesão ao concreto e ao pessoal, ligase a conhecida inclinação ao capricho feminino. Além disso, a vida sentimental da mulher depende notavelmente do fator físico. Médicos experientes declaram que são poucas as mulheres que não sentem psiquicamente a influência dos processos físicos do período de menstruação. A maioria fica deprimida mais ou menos intensamente nesses dias ou antes ou depois. Conforme as peculiaridades pessoais, manifestam irritabilidade, tristeza ou angústia.

por Cristo.

 

2.6 Psicologia Pastoral no Cuidado das Almas Femininas

A psicologia da mulher caracteriza-se antes de tudo pela força e profundeza de sentimento. Assim se explica também a inclinação que tem pela intimidade, espiritualidade, desejo ardente de ser útil ao próximo, de cuidar, de socorrer. É claro que este dote natural pode ser colocado com facilidade a serviço de sua vida religiosa. A religião cristã é mais rica de valores sentimentais que qualquer outra. Basta pensar no ensinamento sobre o amor provido e paterno de Deus, sobre a Encarnação e a Paixão do Salvador etc. Muitas verdades religiosas e formas de oração tem, portanto, efeito mais vistoso sobre a alma feminina. Mas, justamente por isso, a mulher está mais exposta ao perigo da exaltação e do sentimentalismo mórbido. Assim é preciso orientar a mente da mulher para o essencial, o verdadeiro e o espiritual. O Redentor disse à samaritana que Deus deve ser adorado “em

espírito e verdade” (Jo 4.23).

Outro aspecto característico da psicologia feminina é a ligação intensa ao que é pessoal; é a raiz de sua maior força de amor e da capacidade de dar-se sem reservas. Devemos procurar que esse laço ao pessoal se inspire no amor puro, pois, de outra forma, degenera facilmente em capricho, parcialidade e transforma-se repentinamente em aversão. Dessa ligação com o pessoal, tão forte na alma feminina, resulta também a facilidade de sentirse segura na proteção, no amor e na misericórdia de Deus, de chegar ao amor ardente e entusiasta por Cristo. O exercício da humildade e da confiança, tão indispensáveis para a vida cristã, é menos fatigante para a mulher do que para o homem. Da mesma forma, para a mulher é mais fácil abrir a alma. Há naturalmente o perigo de ver no confessor-não o mediador entre Deus e a própria alma, más a pessoa do sacerdote, tornando-a termo de aspiração e de desejo. É lógico, portanto, que o diretor espiritual das mulheres possua personalidade irrepreensível e notável medida de altruísmo, se quiser conduzir diretamente para Deus uma alma feminina a ele confiada.

A palavra do precursor deve tornar-se seu lema: “Ele (Cristo) deve crescer, eu diminuir” (Jo 3.30).

Toda a direção espiritual da mulher, para ser bem feita e fecunda, deve aproveitar-se do ideal especificamente feminino, que se exprime no binômio virgindade e maternidade. Em qualquer alma nobre de mulher - não importa se casada ou não - a virgindade e a maternidade devem harmonizar-se e completar-se reciprocamente.      Não é a virgindade nem a maternidade só que representam o ideal feminino.

       A maternidade da mulher suscita nos outros uma sensação de refúgio seguro e de amor; a virgindade, ao contrário, desperta o sentimento da intangibilidade, do respeito profundo. Já que hoje devemos lutar pelo verdadeiro ideal feminino que renove o mundo, é muito importanteacentuar a fusão necessária entre maternidade e virgindade. Se falta um desses elementos, o ideal feminino fica automaticamente diminuído e falsificado. Também a alma virginal, deve sentir a maternidade, que

pode exprimir-se no cuidado dos enfermos e das crianças, no apostolado da oração e no serviço contínuo da caridade. Sem calor materno, a virgindade torna-se fria, rígida, fossilizada, sem doçura nem graça. No entanto, também a maternidade da mulher casada deve

estar unida à virgindade espiritual que a torne intangível para o homem. Ele deve permanecer diante da mulher, apesar de todo o amor e de toda a confiança, a respeitosa distância. Deve ver nela o aspecto sagrado, que não ousa tocar e pretender toda para si, por perceber

que, em virtude de sua virgindade espiritual, pertence só a Deus. Em última análise, trata-se apenas de acentuar um ou outro dos dois polos do ideal feminino: para a virgem será a virgindade materna e para a casada será a maternidade virginal” (H. Schmidt).

          Era, portanto, errado nas associações da juventude feminina apresentar a virgindade como o único bem. Educar boas mães cristãs em pureza virginal e, portanto, pintar em cores vivas também o ideal da mãe cristã e apresentá-la como modelo, deveria ser uma das tarefas

principais dessas associações. O que nem sempre tem acontecido. Nunca se poderá sublinhar bastante que bênção representam os filhos para a mulher, não só do ponto de vista psíquico, mas também do físico. Não é raro o caso de moças, que durante anos sofreram diversas formas de neuroses, ficarem curadas logo que se tornam esposas felizes e mães de criança sadia. Os filhos são justamente o desejo natural mais profundo de todo coração genuinamente feminino.

          Naturalmente custam paciência, sacrifício e preocupações. Mas é no desdobramento e na ativação dessas disposições femininas que a mulher encontra a própria felicidade. É óbvio que a mulher, compreendida sob o ideal duplo da maternidade e da virgindade, poderá defender melhor a dignidade do matrimônio contra a profanação do abuso conjugal. Educará o marido, pela sua pureza, ao respeito tão profundo de modo que ele, levando em consideração seus sentimentos e dignidade, aceitará o sacrifício da continência, ou ela, com seu sentimento materno pronto ao sacrifício, aceitará todos os filhos que a Providência divina quiser conceder-lhe.

2.7 Psicologia da Vida Sexual

Na época do materialismo ateu, consideravam a função sexual dos homens apenas como meio de satisfação da libido, cujas consequências naturais podiam ser evitadas com violações arbitrárias das leis da natureza. O fanatismo racial dos últimos anos, sem nenhum sentimento espiritual, descobria no instinto sexual um meio para tomar o próprio povo grande e poderoso, pronto a combater e exterminar outros povos e outras raças, mediante o desprezo dos direitos humanos mais primitivos, aniquilando ou impedindo a vida dos seres fracos e não idôneos para a luta e criando os descendentes da raça pura. Diante desse conceito de vida sexual, contrário à dignidade humana, perguntamos qual seja o significado e o alvo da sexualidade, desejado por Deus e digno do homem. Da resposta a essa pergunta aparentemente teórica, resultam consequências para a psicologia e para a prática da cura pastoral. Indica-se em geral a geração de nova vida e a propagação da espécie como objetivo da sexualidade humana. É a verdade, porque está de acordo com a natureza de muitas qualidades sexuais do homem e da mulher. Mas aí não está a relação completa do complexo sexual e, menos ainda, da grande diferenciação psíquica que se manifesta nos dois sexos. E mesmo se toda a esfera sexual se destinasse à procriação, ficaria sempre a pergunta: Por que o Criador quis para a geração justamente a forma bissexual, quando no resto da natureza existem também outras formas de propagação? “Mas a essência da sexualidade deve ter razão mais profunda, uma vez que abarca e fundamenta também as peculiaridades psíquicas dos dois sexos. Observação demasiadamente superficial pode demonstrar-nos que o homem e a mulher completam-se reciprocamente, que se comportam como partes de um todo de natureza superior, mesmo em outros setores que nada tem a ver com a procriação. O homem parece fragmentado na sua totalidade física e psíquica. Uma relação polar de atração e repulsão recíproca, de um procurar-se e escapar-se, fornece os elementos de processo vital singular. Nessas tensões está expressa a intenção do Criador, segundo a qual os dois sexos devem fundir-se numa síntese determinada, completar-se reciprocamente numa criação ulterior, que

ultrapasse os indivíduos, sem anulá-los” (F. Zimmermann). Mas nem mesmo a função integradora dos sexos, no sentido do aperfeiçoamento de cada um, explica o significado último da sexualidade. Surge outra pergunta: por que Deus criou cada ser humano de tal forma que tenha necessidade de um complemento, e por que, por outro lado, esse complemento deve vir por meio de outro ser pessoal? Estamos aqui na metafísica da sexualidade. A razão última está apenas na vontade do Criador de dar vida, por meio do ser particular, a organismo humano superior: a comunidade dos indivíduos diferenciados. Na ordem do plano divino da criação, essa comunidade está colocada acima do ser particular; o todo tem mais valor que as partes. O indivíduo está orientado para a comunidade e a ela deve servir. Assim a comunidade homem-mulher é o protótipo e o modelo de qualquer comunidade humana. Nela o homem e a mulher atingem o aperfeiçoamento natural, nela o ser pessoal eleva-se à vida vivida em conjunto, um pelo outro, em complemento recíproco. Por isso a família não é uma comunidade, mas a comunidade dos homens. E justamente não só no setor natural, mas também no religioso. “A cabeça de todo homem é Cristo, a cabeça da mulher é o homem, e cabeça de Cristo é Deus... O homem, portanto, não deve cobrir a cabeça, porque é imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem. De fato, o homem não é da mulher, mas a mulher do homem. Pois o homem não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem” (1 Cr 11.3ss). A sociedade entre o homem e a mulher, a simbiose sexual, não tem, portanto, como finalidade só a troca de bens terrenos, mas por tarefa suprema a mediação entre a comunidade e Deus. A mulher chega a Deus por meio do homem, como Deus chega à mulher por meio do homem. Assim aconteceu na criação da mulher e assim continua na criação posterior, no processo vital dos sexos. Dessa forma o homem é o mestre e o sacerdote da mulher. Antes do pecado original o vínculo conjugal era também comunhão sobrenatural com Deus, no qual o homem foi mediador dos bens e das graças divinas. A mulher foi santificada mediante a união com o homem; por meio dele a mulher era admitida não só à comunicação da natureza humana mas também à da vida divina da graça. Com o pecado original, no qual o homem caiu por meio da mulher, a corrente da vida sobrenatural separou-se do vínculo conjugal e agora caminha por conta própria. O matrimônio torna-se agora, segundo o ensinamento do apóstolo Paulo, o grande mistério e a imagem da união vivificadora e cheia de graça de Cristo com sua Igreja. “Na nova ordem, também o vínculo sexual foi santificado, como imagem da união de Cristo com a alma em estado de graça, como era no estado primitivo, quando o homem representava ainda para a mulher o mediador da graça sobrenatural.

Com a santificação do homem e da mulher, mediante a união com Cristo, também se leva a sua união novamente à função sobrenatural originária. No matrimônio consagra-se o homem outra vez sacerdote

da mulher, de modo que o casamento, como no estado primitivo, se torna comunhão não só de bens humanos, mas também dos bens divinos” (Zimmermann).